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A prática da consciência fonológica no processo de alfabetização a partir da educação infantil

Atualizado em: 16/07/2021

Autora Convidada: Cíntia Oliveira.

Resumo

O presente artigo tem como finalidade apresentar um breve estudo sobre o desenvolvimento da consciência fonológica a partir da educação infantil, com crianças de 5 anos de idade. Baseado em referenciais teóricos e estudo de caso, busca-se trazer a importância do desenvolvimento da consciência fonológica e da educação infantil como parte do processo de alfabetização e da importância da educação infantil na educação escolar. O interesse pelo tema se deu pelo fato de encontrar crianças com dificuldade na alfabetização, onde muitas delas chegam até o terceiro ano do ensino fundamental sem saber ler. Isso impulsionou então a proximidade com o primeiro ano e a pesquisar possibilidades de métodos que favorecessem o processo de alfabetização.

Palavras-chave: Educação Infantil; Alfabetização; Consciência Fonológica.

Introdução

Apresenta-se neste texto uma pesquisa bibliográfica e estudo de caso sobre a importância de procurar desenvolver a consciência fonológica desde a educação infantil. Sendo assim, busca-se estudar a relação que as atividades em prol do desenvolvimento da consciência fonológica têm de positivas no processo de alfabetização e letramento da criança a partir dos 5 anos de idade. Atividades como: rima, diferentes tipos de leitura, aliterações e fonêmica, e jogos podem contribuir para uma compreensão não-mecânica do ler.

A educação infantil é a fase mais importante do desenvolvimento da criança. Pensar na primeira infância com atenção é de extrema relevância para o desenvolvimento infantil. Pesquisar mais sobre este tema impulsiona a aprimoração da prática na educação infantil, que tantas vezes se confunde com o ‘cuidar’.

Mas então, qual é a importância da educação infantil no desenvolvimento da criança? E, o que é alfabetizar? São questões importantes e se complementam. A forma como se pensa a educação infantil e a alfabetização norteia a prática e traz a relevância de se pensar e praticar o desenvolvimento da consciência fonológica no processo de alfabetização e letramento.

A pesquisa pretende trazer a conscientização aos professores e estudiosos da importância de se pensar em alfabetização como um processo contínuo, que não se inicia apenas aos 6 anos de idade, na escola. Mas que esse processo se inicia a partir do contato da criança com o mundo, e não somente na e a primeira infância precisa ser pensada junto, a partir da educação infantil, desenvolvendo a consciência fonológica de várias formas, de acordo com a faixa etária da criança.

Sou professora de educação infantil do município do Rio de Janeiro desde 2012. Nas escolas municipais pode-se ver de perto os problemas no processo de alfabetização das crianças desde o primeiro ano, até o terceiro ano, onde muitas ainda não conseguem ler. Ao se apropriar desta situação-problema, pensa-se em várias possibilidades de intervenção e melhora para que o processo de alfabetização possa ocorrer da melhor forma possível. Comecei a me interessar pela alfabetização e pesquisar as melhores possibilidades de alfabetizar. Então, porque não começar a partir da educação infantil? Porque segregar tanto estas duas categorias: educação infantil e séries iniciais? Afinal, uma não leva a outra? Qual é o papel social da educação infantil? Porque falar de consciência fonológica? A partir de então falaremos de algumas práticas em sala de aula que desenvolvem a consciência fonológica de forma lúdica a partir da educação infantil, mais especificamente a partir de crianças com 5 anos de idade.

Será abordado o estudo de caso na prática em sala de aula da Escola Municipal Alberto de Oliveira com a professora regente Cíntia Oliveira.

A PRÁTICA EM SALA DE AULA DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Neste momento serão apresentadas algumas atividades realizadas com a turma EI 51, da Escola Municipal Alberto de Oliveira. O material aqui exposto será analisado e discutido, para que se possa entender a influência desse trabalho com o desenvolvimento da consciência fonológica na criança e sua relação com a alfabetização e letramento. Assim como visto nas orientações curriculares, é direito da criança aprender brincando, e elas gostam de brincar com as palavras e realizar atividades lúdicas. Costumo utilizar práticas que envolvam rimas, aliterações, cantigas, parlendas, diferentes tipos de leitura, habilidades com sílabas (que chamamos de pedacinho). Essas repetições são interessantes para eles.

Um “progresso importante para melhorar a motivação para aprender a ler”, como também para aprender a escrever, deveria ser obtido se se produzissem modificações no modo como a escola afeta os contextos mentais internos das crianças relativos aos textos e ao conhecimento do mundo, e com mudanças nos contextos sociais de interação com o professor e colegas. (FERREIRO; 1987.p. 179).

Serão inseridas imagens de algumas atividades feitas em sala de aula sobre o livro: Viviana, Rainha do Pijama, na Escola Municipal Alberto de Oliveira, com a turma EI 51, na qual sou a regente. É procurado trabalhar com projetos, pois é bastante pertinente trabalhar um livro de diversas formas, criar atividades e mostrar isso as crianças, planejar e realizar uma culminância sobre o projeto, assim deixando o trabalho mais rico, detalhado e fixo na memória das crianças. Então, foi convidada a professora regente do 1º ano para realizar o projeto junto à turma de educação infantil, EI 51. O projeto iniciou com a apresentação do livro: Viviana, Rainha do Pijama, de Steve, primeiro com a apresentação da capa do livro mostrando e questionando: “o que será que esse livro vai nos falar?”, e assim as crianças observam o que tem na capa e são estimuladas a imaginar e a interpretar a imagem, a buscar informações na capa que informem qual será o seu conteúdo. Após várias expressões, trabalhando a capa, título, autor, contracapa e o que o livro parece nos contar através da interpretação visual, começa a contação da história. Esta história é muito rica em possibilidades e pode-se trabalhar diversas possibilidades. Como a história fala também de convites, foi trazido à sala de aula diferentes tipos de convites através de pesquisa realizada pelas crianças e professora em suas casas, para que pudessem conhecer de forma concreta as diferentes estruturas do convite e as possibilidades de escrita. Sendo assim, a partir da história foi feito um convite para a turma do 1º ano, juntos em um cartaz, convidando para uma festa no pijama na sala de aula da turma EI 51, e todos assinaram este convite.

Foi destacada a palavra: pijama, para que se trabalhasse com o alfabeto móvel. Esta palavra foi destacada por ser foneticamente mais simples, levando em conta a faixa etária da turma, 5 anos, e seus objetivos. A palavra é apresentada da seguinte forma: a professora regente articula bem a palavra ao falar para que as crianças, ao escutar, tentem descobrir quais letras compõem a palavra. Assim, vai sendo colocada no quadro letra por letra, até conseguir preencher toda ela com as letras que a formam. Depois, a turma é separada em grupos para que possam fazer a atividade proposta na mesa com a professora, enquanto os outros realizam atividades mais livres nas outras mesas, como massinha, blocos lógicos, pintura e outros, que desenvolvem habilidades importantes para todo o processo de aprendizagem e alfabetização. Na atividade dirigida, junto à professora, é utilizado o alfabeto móvel, onde as crianças procuram formar a nova palavra aprendida através do som dela. Após montarem a palavra, copiam embaixo a mesma para ter familiaridade com a escrita: que se inicia da esquerda pra direita e que precisa ter uma ordem das letras para que se passe o significado desejado. Em outro momento, foi montado uma lista de personagens da história em um cartaz e, então, foi realizada uma atividade com o alfabeto móvel para montar os nomes dos personagens, com o auxílio visual do cartaz.

Também foi realizado um texto coletivo, onde juntos foi montada uma história com um final diferente do livro , estimulando a criatividade, memória, coerência, e todos assinam para entender que tiveram a possibilidade de criar uma história deles, que foram autores dela. Outra possibilidade de trabalho, foi com as rimas, em um cartaz. Trabalhar com as rimas é muito estimulante para as crianças, porque traz a ideia de brincadeira, a ao mesmo tempo proporciona sonoridade, ritmo e musicalidade, desenvolvendo assim a consciência fonológica, tão importante para o processo de alfabetização. Esse momento é utilizado um cartaz e palavras soltas da história, e as crianças precisam analisar quais palavras rimam. Elas podem utilizar várias possibilidades para identificar as rimas: a audição, escutando o som e selecionando quais terminam com o mesmo som, ou parecidos. Ou pela visão, identificando quais palavras tem as mesmas letras finais. Eles utilizaram ambas estratégias, porém a mais utilizada foi a auditiva. Enfim, a culminância desse projeto foi uma festa do pijama com as duas turmas, onde eles trouxeram os pijamas, vestiram, e fizeram o desfile de pijamas (assim como na história, só que na festa em sala de aula, todos ganharam como o pijama mais bonito). Teve filme e pipoca. Foi um momento de muita alegria para eles. Propiciou uma aprendizagem prazerosa e divertida, e ainda o estreitamento entre as duas turmas, onde a futura passagem que há da educação infantil para o 1º ano ocorra de forma menos abrupta.

De acordo com Vygotsky (1984 apud BRANDÃO; ROSA, 2011, p. 15) ... “a escrita precisaria ser ensinada como algo relevante para a vida, pois somente dessa forma ela se desenvolveria não como “hábito de mão e dedos, mas como uma forma nova e complexa de linguagem”. Portanto, trabalhar com projetos é

Ou seja, é mais uma forma de buscar o máximo de possibilidades para que a leitura e escrita tenham sentido, seja algo relevante para a vida da criança, gerando curiosidade, desenvolvendo o hábito de ler e escrever. E a partir disso, sempre trazer a consciência fonológica, que desenvolve a percepção visual e auditiva, como pode ser visto, identificando fonemas, sílabas, rimas, alterações, vários tipos de brincadeiras e outros.

Conclusões

De acordo com o estudo realizado, pode-se concluir então que desenvolver a consciência fonológica a partir da educação infantil é muito positivo e benéfico, trazendo resultados estimuladores, tanto para as crianças quanto para o professor regente. E para tal também é necessário um ambiente letrado, que envolve acesso a livros, textos, letras, imagens, alfabetários, cartazes com as atividades realizadas em sala de aula e outras formas de expressão de linguagem. Já trabalho há quase 7 anos com Educação Infantil e, inicialmente, não utilizava o método fônico especificamente. Comecei a me interessar, buscar e aplicar este método há uns 4 anos, como citado na introdução, e digo que vi diferença na aprendizagem das crianças. Estas concluem a educação infantil com a consciência fonológica mais desenvolvida, com mais curiosidade e interesse pelo mundo da linguagem oral e escrita.

Se é para falar de consciência fonológica, é pertinente desenvolver o gosto pela leitura, que coloca a criança em sintonia com o mundo, abrindo o horizonte para futuros leitores, incentivando o gosto e hábito pela leitura, que desenvolverá a linguagem oral, ampliará o vocabulário, a imaginação e criatividade, o uso da linguagem própria como forma de expressão e o reconhecimento dos usos e funções da escrita.

Pode ser visto, através dos resultados com os jogos de palavras e rimas, que a consciência fonológica foi estimulada e desenvolvida da turma em geral. As crianças procuram repetir as palavras para identificarem os sons das letras, os fonemas, e a relação grafema/fonema. Buscam pela sala, ao olhar os murais, livros, palavras parecidas, ou que comecem com a mesma letra, ou que termine de forma parecida. Tudo isso de forma involuntária também, por curiosidade. Muitas vezes abordam a professora para falar de alguma descoberta deste tipo. Todo esse trabalho é feito de forma gradual, com complexidade crescente, apresentando as letras e seus nomes e sons. Inicia-se com os fonemas mais simples, como vogais, e depois consoantes, como a letra F. Como pode ser visto, tudo isso de forma contextualizada, a partir de projetos com livros, para que junto com toda essa curiosidade seja também desenvolvido o gosto e hábito de leitura. Afinal, quanto mais escutar histórias, ou outros tipos de leitura, que também é muito importante trazer para eles, mas se desenvolverá a audição e a consciência fonológica. E este método traz a possibilidade de jogos e brincadeiras que despertam o interesse e curiosidade, estimulando a aprendizagem. E é este o objetivo da educação infantil, que a criança inicie seu processo de alfabetização, de aprendizagem, de forma prazerosa. Porque esta é a fase que cria a base, forte ou não. Isso vai depender da forma como se pensa primeira infância.

Portanto, trazer este tema, pesquisar e estudar na prática seus resultados foi extremamente gratificante, não apenas por se comprovar a importância e eficácia do método fônico no processo de alfabetização, mas por poder trazer as turmas regidas por mim essa possibilidade de lúdico e aprendizagem, onde foi nítido ver o estímulo deles por querer aprender mais e entrar no mundo da leitura e escrita de forma prazerosa. Uma base lúdica que facilita o processo de alfabetização da criança no primeiro ano de ensino fundamental.

A consciência fonológica pouco desenvolvida distingue alunos de pré-escola em desvantagem econômica de seus pares mais privilegiados ... e mostrou ser característica de adultos com problemas de alfabetização nos Estados Unidos .... Na verdade, entre os leitores de línguas alfabéticas, os que têm êxito invariavelmente têm consciência fonológica, ao passo que os que carecem dela invariavelmente têm que se esforçar mais ... (ADAMS, et al, 2006, p. 21)

De acordo com a citação acima, desenvolver a consciência fonológica ajuda no processo de alfabetização, que reflete em toda a vida do sujeito. Sendo assim, é importante utilizar o desenvolvimento da consciência fonológica a partir da educação infantil para garantir o acesso à linguagem oral, em que já estão expostos a partir do momento em que nascem, de forma lúdica e prazerosa, para que eles possam ter uma passagem para o primeiro ano com mais tranquilidade, sem perder o direito que todos eles têm na educação infantil: o de aprender como crianças. Mas também, para contribuir à toda sua formação posterior.

Referências

ADAMS, Marilyn Jager; FOORMAN, Barbara R., LUNDBERG, Ingvar, BEELER, Terri. Consciência fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed, 2006.

BRANDÃO; Ana Carolina Perrusi; ROSA, Ester Calland de Sousa (orgs). Ler e escrever na educação infantil: discutindo práticas pedagógicas. 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

FERREIRO, Emilia; PALACIO, Margarita Gomes. Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

WEEB, Steve. Viviana, Rainha do Pijama. Editora Salamandra.

Autora Convidada:

Cíntia Oliveira

Pedgoga/UERJ

Professora do Município do Rio de Janeiro

Psicopedagoga

Instagram @pedagoga.cintiaoliveira

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