Home

Registro e Documentação na Educação Infantil

Atualizado em: 30/10/2020

Autora convidada: Tatiana Alves.

Olá professor, você já ouviu falar no termo “documentação pedagógica”? Você sabe do quetrata esse assunto?

Neste artigo vou falar sobre o tema e dar algumas dicas sobre como organizar seus registros e documentar suas observações.

Mas afinal o que significa esse termo?

Segundo Edwards, Gandini e Formam (1999) o termo “documentação pedagógica” insere-se em uma proposta que considera a importância da escuta, da observação e do registro para conhecer as crianças.

De acordo com o Currículo da Cidade de Educação Infantil (2019,p.145) a documentação pedagógica é a imagem que construímos da criança, assim como um reflexo de nós mesmos professores.

Pensando nessa definição podemos considerar também que essa documentação é uma prática reflexiva do professor para que este possa visitar e (re)visitar sempre que achar necessário para melhorar ou avançar com o grupo.

Essa documentação servirá de norteador para dar continuidade ao trabalho sem extrapolar os limites de exigência da turma respeitando o tempo e a individualidade de cada criança.

A documentação pedagógica nada mais é que a observação e o registro do cotidiano.

Mas por onde começar?

COLETA DOS REGISTROS

Para documentar as observações realizadas, o professor pode fazer uso de algumas ferramentas, entre elas:

FOTOS: Fotos geralmente são mais comuns para organizar a documentação. É um excelente recurso a ser utilizado.

A fotografia quando usada de maneira correta como registrorende trabalhos maravilhosos. Porém quando usada de maneira incorreta, ela não representa em nada os fazeres das crianças, são as famosas fotos “fakes ou posadas”, ou seja, a criança se prepara para sair na foto. Essa não é a intenção da fotografia no que diz respeito à documentação.

VIDEOS: O vídeo como recurso também é outro método bastante comum, além do professor poder visualizar sempre que quiser para observar algum detalhe que talvez tenha passado despercebido.

ÁUDIOS: O gravador como ferramenta auxilia o professor principalmente na elaboração da parte escrita. Nele o professor poderá narrar as falas das crianças, o percurso da turma, o que acontece no ambiente e outras coisas que achar relevante. O áudio é muito bom quando os outros recursos não estão tão disponíveis no momento.

ANOTAÇÕES: Quando falo de anotações me refiro a papel e caneta mesmo ou um bloco de notas no celular para anotar e compor os registros do professor, além de dúvidas e ideias que sejam pertinentes. Escrever além de ser uma prática para o professor é um recurso que nunca sai de moda.

Agora que já sabemos como documentar, precisamos saber o que documentar?

Essa é outra dúvida muito frequente na vida do professor. O que registar?

A primeira coisa que precisamos saber é que todo registro precisa ter intencionalidade, ou seja, o professor precisa estabelecer um foco na observação, não dá para registrar tudo ao mesmo tempo, diria que é praticamente impossível.

De acordo com PROENÇA (2018, p.50):

Para que a observação não se perca, e o olhar não se disperse da multiplicidade de fatos para observar, é fundamental que se estabeleça um foco, ou seja, o planejamento da prioridade de trabalho para direcionar o olhar e a escuta.

Por isso a importância do planejamento na rotina do professor. Planejar o que observar é fundamental!

As interações vão dizer muito sobre as crianças e a maneira como elas se relacionam com as outras crianças, com os adultos, os espaços e os materiais.

É considerar nessa observação a criança como protagonista e ativa nas suas ações.

Observar individualmente cada criança é essencial para um registro significativo.

Outro ponto no que observar, é a maneira como a criança se relaciona como ambiente ao qual está inserida. Só lembrando que espaço e ambiente são distintos.

O ambiente diz respeito as relações que se estabelecem naquele lugar, enquanto espaço diz respeito a mobiliários, objetos, etc.

Como dito anteriormente, documentar é o cotidiano. Esse é um erro muito comum cometido por alguns. Muitos consideram importante apenas registar propostas com pintura, escrita, confecção e esquecem que além dessas coisas (o que não deixam de ser importantes) é que a criança também está na escola para se alimentar, dormir, brincar...Muitas vezes essa observação não é considerada relevante, por acreditar que nada mais é do que algo que acontece diariamente, porém uma atividade com tinta, por exemplo, precisa ser um evento e dada a devida importância! Compreende?

Uma criança quando chega no início do ano na escola demonstraalgumas dificuldades por não estaracostumada com aquela rotina ou até por falta de estímulos, como se alimentar sozinha, escovar os dentes, calçar ou amarrar os sapatos, trocar a roupa, segurar num lápis...Porém no decorrer do ano algumas conquistas e mudanças podem ser observadas e consideradas pelo professor, mas como narrar esse percurso seo mesmo não foi registrado?

Essa conquista passo-a-passo da autonomia precisa ser observada e documentada.

Uma frase de Malaguzzi que não sai da minha cabeça é “O que não se documenta, não existe”.

Percebe a importância do registro?

E para finalizar nosso percurso com a documentação pedagógica chegamos a uma questão de como organizar todas essas observações e registros?

Vamos começar pelo portfólio que é um instrumento para documentar e avaliar o trabalho realizado no decorrer de um período. Pode ser uma pasta ou caderno. Ali o professor poderá organizar todo o percurso percorrido pela criança naquele período de observação.

Outro instrumento bastante significativo são os projetos que tem por origem a observação atenta do professor em relação as crianças, seus interesses e falas curiosas. O projeto parte de um problema ou questão e a medida que essas perguntas começam a ser respondidas o projeto vai ganhando corpo e se definindo.

O diário de bordo como prática de registro parte de um instrumento de reflexão do professor. Ali o professor irá registrar as experiências do grupo, avanços individuais das crianças, propostas que não deram certo e refletir também sobre as suas práticas pedagógicas pensando na questão do que pode ser melhorado ou o que ainda está distante entre as relações e os sujeitos.

A escrita como prática para o professor se torna um momento de reflexão e de consciência.

O caderno de bordo não necessariamente precisa ser um caderno padrão. A forma de organização dele é particular do professor, porém é importante que este dedique algumas páginas para cada criança narrando seus fazeres e registrando as suas produções.

O caderno precisa ter também um espaço para ele registrar suas dúvidas, ideias, pensamentos, frustrações tendo por norteador como um instrumento metodológico.

O professor deverá apenas tomar cuidado para que esses registros não sejam algo sistematizado ou pré-determinado por ele.

Um outro recurso para a documentação são os relatórios. Os relatórios individuais são pensados em todos os registros coletados pelo professor. A importância dos relatórios é narrar o percurso percorrido pela criança, suas conquistas, avanços e construções individuais de saberes e descobertas.

Mas para a elaboração desses relatórios o olhar do professor deve estar apurado para esta criança considerando-a como sujeito e construtora da sua aprendizagem.

Nessa perspectiva o Currículo da Cidade (p.151) aponta que a voz da criança e a escuta ativa dos adultos são elementos chave para o acompanhamento das conquistas e contribuições regulares das crianças.

A importância do relatório é que mesmo que as crianças estejam em espaços coletivos a apropriação do conhecimento é individual, cada uma irá percorrer seu caminho na aprendizagem.

Tendo esse fundamento como base para a observação e registro o trabalho do professor nesse percurso de documentar torna-se mais tranquilo, pois ele saberá exatamente qual será o foco da sua observação.

Os modelos de organização citados dizem respeito a maneira como o professor poderá organizar de maneira significativa o seu trabalho. Infelizmente ainda nos esbarramos em propostas totalmente sem sentido e sem considerar a centralidade da criança no trabalho.

Documentação pedagógica é processo, não é produto- final. É preciso a compreensão de que esse trabalho demanda tempo e este tempo que estamos falando não é o tempo do adulto, mas o tempo da criança.

A criança é Co-construtura de conhecimento, identidade e cultura. Pensando no ritmo de desenvolvimento da criança Wallon (1995) nos dá algumas pistas quando afirma que o ritmo pelo qual se sucedem as etapas é descontínuo, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas.

Todo esse vai e vem precisa ser considerado, as crianças avançam mas ás vezes retrocedem também no desenvolvimento.

O olhar atento e observador do professor precisa considerar essa questão como parte da sua documentação.

Outro ponto importante a ser considerado é que documentação pedagógica não é só a observação da criança, nem uma observação passiva por parte do professor. Este poderá intervir sempre que considerar importante fazendo a “ponte” ou nas palavras de Vygotsky a zona de desenvolvimento proximal (ZDP).

Para finalizar nossa conversagostaria de enfatizar o porquê da documentação pedagógica, qual a sua importância?

Por que documentar?

Documentar para criar memória- As fotografias e vídeos antigos guardam memóriasde momentos saudosos que a gente já viveu. Imagine essas memórias para uma criança?

Documentar gera pesquisa para o professor. Um professor pesquisador precisa ir atrás das respostas para os questionamentos que as crianças trazem e respostas também para seu próprio fazer.

Documentar para apresentar o trabalho desenvolvido para as crianças,as famílias e a comunidade.

O que eu trouxe hoje são apenas alguns norteadores para você professor, dar início a um hábito de extrema importância. Não se pode falar em infância se não considerarmos a devida importância que a prática do registro e da documentação tem na nossa prática docente.

Referências:

DAHLBERG, GUNILLA. Qualidade na educação da primeira infância: perspectivas pós- modernas/ Gunilla Dahlberg, Peter Moss, Alan Pence; tradução: Magda França Lopes; revisão técnica: Katia de Souza Amorim. – Porto Alegre: Penso, 2019.

EDWARDS, Carolyn. As cemlinguagens da criança- volume 1. In: FORMAN George; GANDINI Lella. Penso; Ed. 1. 2015.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: umaconcepçãodialética de desenvolvimento infantile- Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.- (Educação e conhecimento)

PROENÇA, Maria Alice. Práticadocente: aabordagem de Reggio Emilia e o trabalho com projetos e portfolios e redes formativas- 1. Ed. – São Paulo: Panda Educação, 2018. 160pp.

OSTETTO, Luciana Esmeralda Ostetto (org). Registrosnaeducaçãoinfantil: Pesquisa e práticapedagógica livroeletrônico.- Campinas. SP: Papirus, 2018.

REGO, Teresa Cristina. Vygotskky: umaperspectivahistórico –cultural da educação.- Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.- (Educação e conhecimento) São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade : Educação Infantil. – São Paulo: SME / COPED, 2019.

Autora Convidada:

Tatiana Alves

Pedagoga especialista em Gestão Educacional. Professora na Rede Municipal de São Paulo. Formadora de professores. Assessora pedagógica.

Saiba mais sobre a autora.

Tatiana Nogueira Alves.jpg

Gostou do artigo?

Compartilhe com quem você acha que se interessa por este assunto.

Quer se inspirar para aprender algo novo?

Veja nosso guia de cursos, eventos, professores, plataformas e instituições de ensino.

Ver o guia

Quer ver mais artigos?

Leia todos os artigos do Aprimoramente e autores convidados sobre educação e aprendizado.

Ver todos artigos
Carregando...